sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A mídia: o areópago dos tempos modernos para a Igreja

Estamos em uma sociedade denominada pelos estudiosos como pós-moderna e midiática, marcada pelos avanços da técnica, e principalmente na área da comunicação. Podemos denominar esta sociedade como sociedade da mídia, pois nenhuma parte da vida contemporânea escapa à sua influência, tanto no entretenimento, na informação e também nas relações pessoais ela se faz presente.
É impossível pensar no mundo, na sociedade e no homem contemporâneo sem verificar a presença da mídia. Ela é onipresente e diária. Os instrumentos da mídia são essenciais e indispensáveis na vida cotidiana.
Estes instrumentos midiáticos movem-nos de um lugar para o outro, em espaços privados e públicos, locais e globais, sagrados e seculares. Concedem-nos um ato de transcendência espacial, permitindo transpor distâncias, alcançando lugares distantes sem sairmos do lugar. Até mesmo estarmos em dois lugares ao mesmo tempo.
Alguns escritores descrevem a mídia como extensões do homem. É impossível escapar a sua presença. Devido ao fato de ser tão fundamental para a nossa vida, e por estar presente em todas as instâncias da vida humana, a Igreja dedica atenção especial a estas novas tecnologias midiáticas, compreendendo-as não como “inimigas”, mas como eficazes instrumentos que podem ser utilizados na ação evangelizadora da Igreja.
À atenção e reflexão da Igreja sobre os novos instrumentos midiáticos é de longa data, a mais de 50 anos, conforme a Carta do Papa Pio XII, a Miranda Prorsus, de 1957, nela, a Igreja, atenta as novas mídias, analisa estes novos instrumentos técnicos de modo positivo, principalmente para o trabalho de evangelização. Posteriormente, com o Vaticano II temos o Decreto Conciliar Inter Mirifica, de 1963, que anima a Igreja a perceber as mídias de forma positiva e incentiva sua utilização para o trabalho pastoral.
Posteriormente, outros pronunciamentos da Igreja sobre essas novas mídias foram apresentados no decorrer do tempo, sempre encorajam a Igreja para a utilização da mesma. Há também pronunciamentos e reflexões sobre os efeitos negativos que estes novos instrumentos midiáticos podem gerar na sociedade, mas eles são apenas instrumentos técnicos, em si não são negativos ou inimigos da religião. Podem tornar-se negativos conforme o objetivo e sua forma de utilização. Tornam-se negativos quando se tornam instrumentos contrários à vida, quando depreciam e desvalorizam a dignidade do ser humano, sendo instrumentos de propagação de valores cultuados pela cultura de morte, e assim, contra os preceitos cristãos.
As novas mídias tornam-se favoráveis ou não a vida humana e a religião dependendo de sua utilização. Diante desses novos instrumentos midiáticos que estão a serviço do homem a Igreja incentiva a sua utilização a favor da vida. Neste ano de 2010, o papa Bento XVI pronunciou oficialmente em nome da Igreja sobre as novas mídias, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais, comemorado no domingo da Ascensão do Senhor, convidando o sacerdote, e na pessoa do presbítero todos os agentes pastorais, e também a Igreja, para utilizarem das novas mídias para o trabalho pastoral, inserindo-se nesse mundo digital presente em nossa realidade cultural totalmente midiática.
Segundo o Papa a Igreja deve estar atenta as mudanças culturais e utilizarem desses novos instrumentos de comunicação para ajudar os homens a descobrirem o rosto de Cristo no mundo de hoje. “O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo”, afirma o documento.
Através da mídia a Igreja é chamada a promover uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana, exercendo uma “diaconia da cultura” no atual “continente digital”. A Igreja deve, portanto, está atenta a realidade de seu tempo, estabelecer um diálogo com o homem a partir de sua realidade cultural, e utilizar das conquistas tecnológicas desenvolvidas pelo próprio homem, que são as novas mídias, para o trabalho pastoral. Os atuais meios de comunicação tornaram-se a “ágora ” moderna onde a Igreja é chamada a anunciar a Boa-Nova, sendo também instrumentos para a Igreja exercer sua diaconia em consonância com a cultura de seu tempo. Os meios de comunicação são hoje “o areópago dos tempos modernos”.


“Ágora”: era a praça principal da cidade grega da Antiguidade. Espaço livre e público onde aconteciam as discussões políticas, jurídicas e populares, o espaço da cidadania. Local onde os apóstolos anunciaram a Boa-Nova aos atenienses.